11.3.07

Jean-Luc

Estou aqui com a cabeça grudada no vidro, olhando pela janela e fazendo pose para o Godard me filmar. Inclino a cabeça, baixo o olhar, levanto o queixo, escolho o melhor ângulo. Assim está bom, Jean-Luc? Encontro a imagem de Jean Seberg abrindo delicadamente os lábios. Descaradamente a copio. Ela roda seu godê pelas floridas ruas de Paris. Godard roda. O homem de óculos de aros grossos e redondos pretos retribui a meus olhares. Ele sabe que eu não sou do tipo que tira a cabeça da janela quando entramos no túnel. E lá vem ele. Não recuo. O meu reflexo é anti-reflexivo. Minha cara está estampada na entrada do Ana Rosa. Se você quiser me filmar agora, Jean-Luc, terá de ir até lá. Rodo com Seberg até os braços de Jean-Paul. Ele acende um cigarro e me dá um trago. Vamos embora de Paris? Sim, Jean-Paul, Paris já não é mais a mesma. Existe uma linda flor de cerejeira na saída do Paraíso, mas minhas frutas estão no Le Marais. Subo as escadas da Consolação. A garoa molha o jornal do dia. Onde estará Jean-Paul agora? Acossado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eita que é poesia!
E é tanta que eu fico assim, achando que entendi. :)

Edson Bezerra disse...

Tonéis de carvalho... não consigo pensar em outra coisa sobre senão as Serras Gaúchas... Ok, sou um pobre professor que não conheceu a Itália e a França para ter a real dimensão do vinho. Mas já é um começo (rs). Parabéns pela foto!

Sabe, vc tem um dom para escrever misteriosamente que me deixa com inveja. Bota isso em livro, mulher!! Infelizmente não gosto muito dessa banda japonesa que vc ouve. E nem escrever o nome. Sou um inútil mesmo!

Saudades, mulher! Precisamos reunir a turma para umas cervejas e um papo descontraído!

Torço por vcs. Beijão!!!!

Gabriela disse...

Sempre tão bom vir aqui! Não há o que comentar, só apreciar.